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O CALISTO

A arte de armador

Senhor dos Passos

Casa Sales

 

 

José António da Cunha (Calisto) nasceu a 15-04-1791 filho de Mariana Maria Domingues, solteira do lugar de Santa Martinha neto materno de Rosa Maria Domingues do mesmo lugar da freguesia de Santa Marta de Portuzelo. Foi criado na casa da avó (edificada no ano 1637) no lugar de Santa Martinha, da freguesia de Santa Marta de Portuzelo. No registo do casamento está como filho de pais incógnitos e criado na casa de Mariana Domingues no Lugar de Santa Martinha e nos registos do nascimento dos filhos aparece como filho de pai incógnito e de Maria Rosa do Lugar de Samonde e criado na casa de Mariana Domingues no Lugar de Santa Martinha de Santa Marta de Portuzelo.

 

Ainda criança foi para Lisboa onde começou a trabalhar numa padaria junto da Igreja do Alto da Graça. Nas horas vagas ajudava um armador vizinho da padaria para ganhar mais uns Reis e aprender a arte que tanto o motivou porque talento não faltava e assim atingia o seu objetivo.

 

Tudo continuaria por Lisboa se não fosse a ganância do Napoleão que só desfez vidas e sonhos da juventude da época.

 

Havia então, na Igreja do Alto da Graça, uma imagem do Senhor dos Passos que o José muito venerava.

 

Na invasão Francesa o José (Calisto) receou que os Franceses profanassem a Igreja e a sagrada imagem do Senhor dos Passos e apressou-se em salvar a imagem que tanto adorava. Com a imagem em seu poder escondeu-a na padaria. Por lá continuou a exercer as tarefas que lhe confiavam como padeiro, carpinteiro e armador onde esta atividade era muito solicitada devido aos horrores das invasões Francesas.

 

Saturado de guerra e incerteza, mas cheio de saudades decidiu regressar à sua terra Natal para viver em paz e concretizar o seu sonho.

 

Perante os Franceses não deixou a imagem do Senhor dos Passos em Lisboa, mas carregou-a até à sua terra e logo edificou no quintal uma cabana de tabuado que, depois de pronto, caleou.

 

Chegado a sua terra procurou a sua amada e casou no dia 18 de dezembro de 1810 com Maria Josefa Martins do lugar de Portuzelo filha de Manuel Martins Mesquita e de Maria Pires Pernica desta mesma freguesia.

 

Na sua vivência na freguesia quando prestava a derradeira homenagem a um familiar muito necessitado ficou surpreendido como os seus conterrâneos enterravam os seus defuntos. Estes eram embrulhados num lençol transportados num esquife comum que pertencia à igreja e chegados à cova aí colocavam apenas o cadáver.

 

O José perguntou porque não enterravam os mortos nos ataúdes próprios e logo o vizinho o informou do elevado preço dos mesmos praticados na região.

 

Ao José logo no seu cérebro gerou-se um projeto audaz, apercebeu daquilo que nas últimas horas lhe ocupou mais o pensamento? Agradáveis ou triste, boas ou más, essas coisas possuíram-no, tomaram conta de si. Se calhar, até contra a sua vontade. Ou então a seu gosto. Quer dizer, algo ou alguém reinou em si, orientou a sua vida.

 

Tomou então o compromisso que quando morresse alguém ele próprio se ocupava do funeral e que  nada pagavam pelo seu trabalho, mas se ficassem satisfeitos com o serviço davam uma esmola ao Senhor dos Passos.

 

Assim foi no enterro seguinte o José encarregou-se do funeral e fez eco pela freguesia e seu redor, a que não era estranha a forma singular da urna.

 

Tanto que o José (Calisto) não teve mais mãos a medir… De todos os lados lhe vinham pedidos e mais pedidos pelo caminho da simplicidade e da humildade, da verdade e da alegria, do serviço permanente a todos. Em tudo o que cada um é e tem.

 

Assim o José prosperou na arte de armador servindo todas as freguesias a ornamentar as igrejas e capelas que realizavam as festas do seu orago. Na época a arte de armador não era conhecida na província, mas logo foi admirada, acarinhada e solicitada   por todo o povo da freguesia e arredores levando os seus amigos a dar-lhe carinhosamente o apelido de CALISTO porque era uma pessoa comunicativa, expansiva, sedutora e altruísta.

 

O CALISTO foi o fundador da capela do Senhor dos Passos edificando um oratório de tabuado (1810) e mais tarde pelo seu filho seguidor na profissão (1885) em pedra como hoje existe. Foi o CALISTO que realizou a procissão do Senhor dos Passos em Santa Marta, motivou os seus descendentes para a sua continuidade durante as várias gerações que lhe sucederam.

 

O CALISTO deu início à arte de armador na freguesia seguida pelos seus filhos. José António da Cunha nascido em 04-02-1818 casou com Maria Afonso Calvário em 30-06-1841 que continuou a prestar os mesmos serviços.

O Calisto faleceu no dia 06 de maio de 1876 com 85 anos de idade.

 

A filha Rosa Afonso Cunha casou com António Fernandes Reguengo (avô do poeta Alfredo Reguengo) e exerceu a profissão também em Santa Marta com a ajuda do sogro assim como os outros filhos que exerceram em Barroselas e Anha.

 

José António da Cunha filho do Calisto faleceu no dia 02 de março de 1897 com 79 anos de idade ficando o seu genro Francisco Sales Gomes a exercer a profissão.

 

A filha do José Cunha neta do Calisto Antónia Joaquina Afonso Cunha nascida em 30-03-1845  casou em 22-04-1867 com Francisco Sales Gomes (Francisco Sales por ter nascido no dia de São Francisco de Sales 24-01-1843) era filho de José António Gomes e de Ana Pereira Amorim.

 

Com o casamento a firma deixou o nome de CALISTO para se chamar SALES.

 

Este casamento deu vários descendentes (11). Uns ficaram em Santa Marta outros estabeleceram-se em Viana e Riba de Âncora como armadores.

 

O filho António Sales Gomes o 3º da dinastia dos Sales é que ficou com a firma em Santa Marta que expandiu como se prova pelo logotipo por ele criado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

António Sales demoliu a casa da trisavó (1637) onde vivia para contruir a casa Sales contigua à capela do Sr.º dos Passos como ainda hoje (2021) existe. Casou com Rosa Martins do Rego e teve sete filhos faleceu em 25-02-1925. O filho mais velho à sua morte tinha 10 anos e o mais novo 1 ano razão pela qual a viúva casou com Domingos Martins Direito seu empregado para manter a firma e criar os filhos  que aprenderam e continuaram no exercício da mesma arte.

 

António Sales como seu Bisavô (o Calisto) continuou com muita devoção ao Sr.º dos Passos mantendo a tradição da procissão do encontro passando às gerações seguintes os mesmos costumes. À morte do Domingos Direito ficou com a casa Sales seu enteado e herdeiro natural da casa o Passos Sales que continuou a preservar a profissão e a tradição familiar com a procissão do Sr.º dos Passos.

Procissão do Senhos dos Passos,

a caminho da Igreja Paroquial,

após sermão de encontro.

5 de abril de 1914

Domingo de Ramos

Imagem retirada da página do Facebook

do lugar de Santa Martinha

 

Álvaro Sales nasceu em 05-12-1919 4º filho do António Sales comprou a firma do António Reguengo (seu tio bisavô) ficando também em Santa Marta a exercer a arte de armador.

 

Foi ao Álvaro que a comissão da Romaria de Santa Marta pediu para produzir uma vela votiva que ficasse ligada à freguesia e à Santa vindo a ser designada vela votiva de Santa Marta.

 

O Álvaro também ele muito devoto do Sr.º dos Passos colaborava na realização da procissão do encontro e era ele que fazia questão em pagar o sermão do encontro para preservar a tradição da procissão dos Passos em Santa Marta iniciada pelo CALISTO.

 

Com triunfalismo barato em 2017 o padre da freguesia com o acordo da viúva do Passos Sales acabaram com a procissão do encontro do Senhor dos Passos.

 

Aqui fica o registo do homem, da profissão, da devoção e da Casa Sales

 

 

 

Álvaro Fernandes de Sales Gomes

Tetraneto do CALISTO

Julho 2021

ÁRVORE GENEALÓGICA DA FAMÍLIA CALISTO

 

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